Páginas

14.6.05

A moça do café

Ela sempre estava lá, com um pano na mão e cantarolando. A primeira vez que a vi não notei bem, mas parecia ter as faces coradas e uma expressão de alegria no rosto. Nesse dia me contou que amanhecera gripada e que o trabalho a havia curado. Na segunda vez ela não disse nada, eu também não perguntei.
Na última vez que a vi ela se mostrou amável. Sentou-se ao meu lado com uma caixa de comprimidos e uma bula na mão e perguntou-me se eu sabia para que servia o remédio, eu expliquei, ela me agradeceu muito e continuou ali sentada ao meu lado. Não perguntei nada, mas ela falou. Falou das noites de insônia, dos anos que trabalhou como faxineira, do dia que sua casa foi inundada pelas chuvas, falou das tristezas e da falta de vontade para trabalhar.
Era uma senhora simples que passava o dia ali, atrás daquele balcão servindo café e parecia feliz por isso. Mas a correria do dia-a-dia não me deixou escutá-la direito. Ela levantou-se sem dizer uma palavra e eu saí sem ao menos despedir-me de dona Ana, a moça do café.

Nenhum comentário: